Nuestra América tem o prazer de compartilhar com seus leitores o relato da jornalista Núria Bianco, que neste mês de abril viajou a Mendoza com as amigas. Com um texto leve e bem humorado, ela conta o que fez na província do vinho. Começa contando como chegou lá (e errou na escolha) e segue falando das visitas às bodegas, dos vinhos deliciosos, dos banquetes dos almoços harmonizados. Viaje junto com Núria no texto a seguir:
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Quem gosta de vinho tem que colocar a província argentina nos planos
” Sabe aquela lista de coisas para fazer antes de morrer? Na minha, entre centenas de itens, estava: viajar com minhas melhores amigas, conhecer a Cordilheira dos Andes e beber vinho sem pensar no preço. Em abril desse ano, realizei estes sonhos em Mendoza. Foi barato? Nenhum pouco. Teve perrengue? Teve. Recomendo? Super!
Quem gosta de vinho, tem que colocar a província argentina nos planos. Com milhares de vinícolas, fica difícil escolher quais encaixar no roteiro e, com a volta recente do turismo pós-coronavírus, algumas ainda estavam fechadas para os visitantes. Aliás, a COVID foi responsável pelos perrengues que passamos, mas só porque erramos no roteiro.
Como a passagem aérea do Brasil para Argentina estava muito cara (fomos em 23/04/22), decidimos entrar pelo Chile de avião, pegar um ônibus em Santiago e garantir o passeio pelas Cordilheiras dos Andes. ERRO TOTAL!
No Chile, as exigências sanitárias estavam muito mais rigorosas. Tivemos de apresentar o PCR para embarcar e fazer um novo exame no momento de desembarque. Aí é ficar no hotel até sair o resultado. No dia seguinte, o ônibus para Mendoza sai bem cedinho, do Terminal Central. Se você imagina que uma rodoviária na América do Sul é igual àquelas da Europa, já começou errando.
O lugar é feio, gelado e sem organização. Os chilenos, pelo menos no frio da manhã, têm um péssimo humor e zero paciência para turistas. Não esqueça de levar comidinhas. O terminal tinha uma única venda aberta e o ônibus só para nas alfândegas. Nas duas, você terá de descer suas malas, depois subi-las e descer novamente para realizar a imigração.
Mendoza com as amigas: mudanças nos planos de volta
A viagem é linda e a paisagem (quase) compensa o estresse. Você passa pelas curvas e vê a cordilheira por dentro. O terreno vai mudando e ao chegar do lado argentino, no outono, você é recebido com cores verdes e lagos azuis-turquesa. O tempo estimado de viagem era de oito horas. Levamos onze.
A rodoviária de Mendoza já te indica que você chegou numa cidade turística e conta com boa estrutura de banheiros, restaurantes e casas de câmbio. Você vai perder dinheiro na troca, tanto na Argentina quanto no Brasil. Com o câmbio flutuante, que os argentinos chamam de “dólar blue”, achamos que compensava usar o cartão. Só que muitos taxistas, remis e lojas não aceitam “tarjeta”. Eles só usam o Mercado Pago, algo como nosso PIX.
Com uma ida difícil e a informação desanimadora de que só poderíamos voltar ao Chile com duas garrafas de vinho, resolvemos viver sem pensar na fatura e comprar uma passagem de avião para o Brasil. Com isso, ganhamos um dia extra em Mendoza e dois em Buenos Aires.
Daí em diante, foi só alegria. Pegamos dias lindos, com céu azul e uma lua cheia que ficava alta no céu até 9 horas da manhã. O outono pintou cada ida até os vinhedos de amarelo, vermelho e verde. O clima era ameno, com manhãs mais frias e um calor agradável depois das 10 horas. Não pegamos chuva nenhum dos seis dias que passamos por lá.
No nosso primeiro dia optamos em ficar pela cidade e descansar. Fomos ao Parque San Martin que é lindo e, como era domingo, tinha uma feirinha incrível. A maioria das tendas e dos food trucks só aceitam dinheiro em papel, então não deixe de levar uma quantia na carteira.
A maratona pelas melhores vinícolas
Com os passeios agendados no Brasil, fizemos: Rutini, Laur Olivícola e El Enemigo no segundo dia, todos em Maipú. A primeira, oferece o tour pela Bodega La Rural, com um museu bem completo que mostra a evolução nas práticas utilizadas para produção dos vinhos. A Laur é uma pequena produtora de azeite que me surpreendeu na degustação e que valeu muito a visita. A vinícola e o restaurante do El Enemigo são paradas obrigatórias, meus favoritos da viagem inteira.
Para o terceiro dia, escolhemos a vinícola orgânica Domaine Bousquet e as pequenas Andeluna e La Azul. Não foram meus vinhos preferidos, mas com certeza, as melhores vistas. O Vale do Uco é uma região linda e as bodegas te oferecem uma vista para as montanhas e o vulcão Tupungato. No restaurante da La Luna você almoça embaixo das árvores e a comida, apesar de menos requintada que das grandes vinícolas, é uma das mais saborosas.
A saga continuou pelas incríveis Pulenta e Cobos no nosso quarto dia em Mendoza. A bodega Catena Zapata ainda estava fechada para visitas, então almoçamos na Decero, que acabou ficando abaixo das demais que visitamos em Luján de Cuyo.
Fizemos todas as reservas com uma empresa de brasileiros, incluindo o motorista, por 445 dólares. Acabamos incluindo mais uma vinícola, que reservamos de última hora, diretamente no site. Na Los Toneles, dos rótulos Mosquita Muerta, fica o restaurante Abrasado, exclusivo de carnes maturadas. Como é bem pertinho do centro da cidade, é possível ir de Uber ou táxi.
Na cidade também conhecemos o Anna Bistrô, que abre do café até o jantar. Não conseguimos mesa em alguns dos lugares que queríamos conhecer, como o famoso Azafrán, já que a maioria exige reserva. A dica é programar os dias com antecedência e garantir a visita tanto nas vinícolas, quanto nos restaurantes da cidade.
Na cidade de Mendoza com as amigas
O comércio não é o forte da região e mesmo no shopping Palmares você não encontrará grandes lojas. O lugar, entretanto, conta com um restaurante Casa Vigil, o mesmo da El Enemigo, e é uma opção para quem não puder ir até Maipú.
Se você gosta de Dulce de Leite e Alfajor, esqueça a Havana! Em Mendoza você encontra a Entre Dos, com produtos feitos em Lujan de Cuyo, considerados os melhores do país.
A volta via Buenos Aires foi tranquila com a ida para capital portenha pela econômica Flybondi. Além da passagem, compre a bagagem despachada e a de mão. O check-in, se for feito em menos de 24 horas do voo, também tem custo.
Eu recomendo Mendoza para todos e voltei apaixonada por tudo. Desaconselharia a combinação com Santiago, principalmente com o trajeto de ônibus. Se a sua intenção é beber e comer bem, não tente economizar no aéreo. Vá e volte com calma, garanta os vinhos no retorno e aproveite o que a vida oferece de melhor: boa comida, boa bebida e boas companhias.”
Gostei. Um convite estimulante a ir a Mendoza beber na fonte, com boas dicas de como não errar o caminho …