Qual o lugar da arte? Pois há StreetArt em casas ribeirinhas da Amazônia. Dez artistas da StreetArt (em Português, Arte Urbana) começam a chegar à s, ampliando ainda mais a Galeria Fluvial que começou a ser construída em 2015.
O projeto começa com a vivência entre artistas e comunitários para definir a pintura e culmina com cinco oficinas para atender cerca de 200 crianças, jovens, alunos ribeirinhos e professores da rede pública de ensino. Além do trabalho artístico, as casas que terão suas fachadas coloridas, recebem sistema de água potável e uma escola da comunidade será equipada com energia fotovoltaica.
O resultado das novas pinturas será exibido em visitas guiadas, gratuitas, nos dias 5 e 6 de março. O serviço completo será divulgado em breve.
As primeiras quatro edições do Street River Amazônia foram feitas de forma independente e colaborativa pelo idealizador do projeto, o artista Sebá Tapajós, que, em 2015, pintou as primeiras cinco casas na ilha. Ao transformar palafitas em obras de arte a céu aberto, o projeto chama a atenção para a vida do povo ribeirinho e traz visibilidade para a urgência de preservação da Amazônia, dos seus rios e da sua cultura.
A quinta edição do projeto, em 2022, é uma realização da Sonique Produções, de Gibson Massoud. “Quando fui convidado pelo Sebá, entrei de cabeça. Estou empenhado em fazer um projeto cada vez mais estruturado e, aos poucos, navegar por outros lugares. O chamado dos rios e do povo da Amazônia é urgente e a arte é uma aliada para trazer o tema à tona de forma colorida e propositiva” – disse Gibson, que também assina a coordenação de comunicação do projeto.
Os dez artistas convidados para a edição de 2022 possuem, além de uma forte relação com o grafite, conexão com a natureza. “A curadoria levou em conta a diversidade de gênero, territorial e racial, buscando também artistas que tivessem em comum a pintura como ferramenta de transformação social e econômica”, diz o curador Willian Baglione. São eles: Amorinha, Anderson Ghasp, Auá, Kadois, Luiz Júnior, Mama Quila, Moka, Pati Rigon, Robson Sark e Thiago Nevs (conheça um pouco de cada um ao final do texto).
StreetArt em casas ribeirinhas da Amazônia- Aprovada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério do Turismo, essa edição é apresentada pela BB Seguros e tem o patrocínio do Boulevard Shopping de Belém, além do apoio da Secretaria de Estado de Turismo.
“Um projeto da relevância sociocultural e ambiental como o Street River Amazônia é algo que converge totalmente com a missão que temos na BB Seguros, que é incentivar ações e projetos transformadores nos mais diversos níveis. Temos muito orgulho em poder participar de uma iniciativa que une tão bem arte e sustentabilidade a uma causa urgente, como a dos ribeirinhos”, comenta Fábio Mourão, superintendente executivo de Marketing e Planejamento Comercial da Brasilseg, uma empresa BB Seguros.
Legados: arte, saneamento e energia limpa
A Ilha do Combu, localizada a vinte minutos de barco do centro de Belém-PA, é um ponto turístico da cidade e recebe visitantes do mundo inteiro que buscam contato com as belezas naturais da Amazônia e com a gastronomia regional. Os moradores têm como principal fonte de renda o extrativismo vegetal (açaí e cacau) e a pesca.
“O Street River Amazônia prevê como contrapartida à cessão da fachada das suas casas, benfeitorias a estas famílias e seus vizinhos com a pintura base das casas com tinta anti-mofo e sistemas de tratamento da água das chuvas (muito frequente na região) para água potável” – contou o idealizador do Projeto, Sebá Tapajós.
Entre 2015 e 2019 foram pintadas 37 casas e instalados 18 filtros de água, 12 cisternas de 240 litros e sistema fotovoltaico em duas escolas. Nesta edição, serão 15 casas pintadas, 12 filtros de água e sistema fotovoltaico em uma escola.
A iniciação em artes plásticas, pintura e grafite, também estimula os moradores da comunidade a darem manutenção e continuidade à iniciativa, além de criarem suas próprias leituras, como é o caso do Xidó: “Eu não dava valor à minha arte. Pintava pra beber, usar droga. Talvez se eu estivesse no mundo sem conhecer o Sebá, eu já estaria morto”. O artesão constrói maquetes de palafitas grafitadas, inspiradas da galeria Street River, e seu trabalho já foi exposto em São Paulo por meio do projeto.
Visitação às casas grafitadas na Ilha do Combu
Para a entrega das obras e benfeitorias, o projeto terá um fim de semana de visitação guiada e gratuita, nos dias 5 e 6 de março.
Duas embarcações farão o circuito durante o dia inteiro, levando um público maior a conhecer as obras e visitar a galeria fluvial, exposição fotográfica e uma confraternização da comunidade com os artistas, técnicos e aberta para a população. Os horários e outros detalhes sobre a visitação serão divulgados em breve.
A galeria a céu aberto, no entanto, pode ser visitada o ano inteiro por meio de passeios organizados pela própria comunidade.
StreetArt em casas ribeirinhas da Amazônia: Conheça os artistas de 2022
Amorinha (Rio de Janeiro-RJ)
Carioca, se define como sampleadora visual. Se apropria de todo tipo de material que consome e vivencia, com o objetivo de estudá-lo para a criação de algo “novo”, mas que ainda assim reverencie o originário, como forma de memória. Tem o cotidiano suburbano, cultura hip hop, negritude e música, como suas fontes de interesse. Trabalha com ilustração, colagem e animação e gosta de misturar e experimentar diferentes técnicas, sendo a maior parte de sua produção digital, com exceção do graffiti, onde reconhece na rua um meio democrático de comunicação, fazendo uso do espaço público como plataforma para sua mensagem.
Auá (Manaus-AM)
Indígena do Povo Mura, Artista, Manauara do Amazonas, formada em Tecnologia em Design Gráfico é Mestranda Profissional em Design pela UFAM. Designer gráfica, ilustradora, grafiteira, performer, maquiadora artística e fotógrafa experimental, travesti, não binário, trabalha com freelancer e já desenvolveu projetos para Nu Bank, Feira Preta, Tomie Ohtake, PerifaCON, Vivo, MAM, Instituto Goeth Indonésia e entre outros. Utiliza suas obras como ferramenta de fala e política, do corpo marginalizado preto, indígena e transvestigênere.
Ghasper (Belém-PA)
É grafiteiro, tatuador, fundador e integrante da crew RPC (Resistência Periférica Crew), em Belém-PA. Começou a grafitar em 2007, se aperfeiçoou através de cursos de iniciação ao desenho, desenho de figura humana, pintura em aquarela, pintura em mural e serigrafia. Participou do primeiro encontro nacional de graffiti do estado em 2014 o reduto Wall e dos projetos no estado como Street River a primeira galeria fluvial do mundo.
Kadois (Santarém-PA)
Santareno, começou a desenhar na infância, tendo como foco a natureza, fauna , flora e os povos da região. Os traços, cores, significado e formas do graffiti foram se aperfeiçoando ao longo do tempo. Suas obras tem grande inspiração nas belezas amazônicas.
Luiz Júnior (Belém-PA)
Abridor de letras decorativas da Amazônia, vive do ofício há 26 anos. É um apaixonado por pinturas nos portos de Belém e municípios próximos.
Mama Quilla (Belém-PA)
Artista paraense especializada em pinturas murais e telas. Com amor, pincéis e tintas faz uma releitura do cotidiano, levando assim para residências e ambientes de trabalho a tranquilidade, questionamentos e inspirações que somente a arte pode nos proporcionar. O autismo do seu filho proporcionou um novo olhar sobre a vida, o que também influenciou em seus trabalhos, e assim sendo a maternidade um dos temas que mais aborda nas suas obras.
Moka (Macapá-AP)
Acreana, é designer, mas decidiu sair das paredes do escritório da agência onde trabalhava para dar vida aos muros da cidade. A artista de 29 anos não se limita ao convencional na hora de rabiscar os traços no papel, e usa o branco das paredes para encher de colorido e dar a sua cara ao projeto. Em trabalhos mais recentes, Moka, como é chamada pelos amigos, fez parceria com a também artista, Gabriela Campelo. A dupla assinou a revitalização do Mirante localizado no novo Complexo Turístico do Canal do Jandiá, de frente para o rio Amazonas.
Pati Rigon (Porto Alegre-RS)
Multi-artista, trabalha com pintura, ilustrações, grafites, performances e tatuagens. Também é modelo e militante trans-intersexo brasileira, teve sua formação em Design pela UFRGS e pela Politécnica de Turim, POLITO – Itália. Iniciou sua carreira nas artes plásticas em 2015, tendo sua primeira exposição de pinturas a óleo hiperrealistas intitulada “Pele Agridoce”. Fez parte de diversas exposições, ações e salões de arte, nacionais e internacionais, solos e coletivas.
Robson Sark (Rio de Janeiro-RJ)
Carioca, 39, teve seu primeiro contato com o graffiti ainda como hobby em 2000. Após anos atuando de forma amadora, fundou em 2015 a marca Tsss! onomatopeia do spray, escritório de projetos artísticos e de designer de interiores. Já teve trabalhos em capa de CD do artista Lulu Santos, exposição na Caixa Econômica Cultural Brasília, Galerio, Cidade das Artes, entre outros. Participou de painéis de grandes proporções no Rio de Janeiro, Santarém, Nova Friburgo.
Thiago Nevs (São Paulo-SP)
Iniciou a pixação no final dos anos 90. Passou por uma linha tradicional do graffiti. Hoje suas pinturas fazem referência a uma estética regional de decoração, os conhecidos filetes de caminhão. Filho de caminhoneiro, Nevs remonta fragmentos de suas memórias e estudos, com pinceladas coloridas e traços simétricos que às vezes acompanham uma caligrafia vernacular. A harmonia de suas pinturas reforçam os valores da cultura popular e a importância de sua preservação.
O curador
O “Street River Amazônia” tem como curador William Baglione, fundador do coletivo de artistas Famiglia (2005 – 2012). Baglione administrou a carreira de oito proeminentes artistas em exposições, obras para colecionadores e trabalhos publicitários, dentro e fora do país. Foi responsável por exposições feitas em museus, centros culturais e galerias de Los Angeles, Miami, Nova York, São Francisco, Las Vegas, Tóquio, Roma, Modena, Brighton, Noruega, Madrid, Barcelona e Moscou.
O idealizador
O Street River foi criado em 2015 por Sebá Tapajós, quando pintou cinco casas de ribeirinhos moradores da Ilha do Combu. Filho de Sebastião Tapajós, o artista é o idealizador da Galeria Fluvial. Por meio do projeto, Sebá carrega o legado de dar voz aos povos ribeirinhos e utiliza a arte como meio de transformação da realidade de comunidades tradicionais. O coordenador artístico do projeto é daltônico. A alteração visual o impede de enxergar as cores como elas realmente são. Apesar da restrição, é um apaixonado pelo grafismo, e brinca com as cores em sua aplicação: “Posso pintar o céu de amarelo ou o dente de azul, por exemplo”, conta Sebá.