Continuamos o relato do fotógrafo Daniel Castellano, que em fevereiro deste ano viajou de carro com a família desde Curitiba até o deserto de Atacama, no Chile. Em “Curitiba-Atacama de carro com a família 3, Castellano fala sobre Salta e o noroeste argentino até a chegada a San Pedro de Atacama. Aproveite!
“Salta é uma cidade que acabou nos surpreendendo. Ela fica localizada em um vale montanhoso e, ao contrário da imagem que aparece nas buscas do Google, é cercada de muito verde, devido ao maior regime de chuvas. E em alguns momentos lembra muito as paisagens brasileiras, mesmo estando próxima à Cordilheira dos Andes. Inclusive, na noite em que nos hospedamos na cidade, acabou caindo um temporal com raios que me rendeu boas imagens.
A cidade de Salta é ponto de partida para destinos como Cafayate, região vinícola mais ao sul. Pela qualidade de seus vinhos, alguns arriscam dizer que Cafayate é a nova Mendoza da Argentina. Nós não fomos até lá, porque nosso destino era sentido norte e ainda tínhamos muitos kms pela frente até chegar ao Deserto do Atacama.
Muita história em Salta
Chegamos a Salta no final da tarde do quarto dia de viagem. Fomos conhecer a cidade, que foi fundada em 1582, e é conhecida pela arquitetura colonial espanhola e pela herança andina. Ficamos hospedados na Calle Caseros, no centro, e dali fomos a pé até o Centro Histórico, parando um pouco pra conhecer a Igreja São Francisco. Mais algumas quadras à frente, a Plaza 9 de Julio. Essa elegante praça repleta é de cafés e rodeada pela Catedral de Salta, de estilo neoclássico, e pelo El Cabildo, uma câmara municipal do século XVIII, transformada em museu histórico.
Ali fica também o Museo de Arqueología de Alta Montaña (MAAM), nas proximidades. Possui artefatos incas, mas já estava fechado quando chegamos. Assim, fizemos algumas fotos por ali, acabou chovendo e logo voltamos pra descansar e seguir viagem no dia seguinte. Leia mais sobre Salta no site oficial da cidade.
No dia seguinte, quinto dia de viagem, seguimos rumo a San Salvador de Jujuy .Teríamos que chegar ao Chile até o final do dia. De Salta até San Pedro Do Atacama são aproximadamente 600 kms a serem percorridos. A altitude chega a variar incríveis 3.700m.
San Salvador de Jujuy e Purmamarca
Colocamos no GPS o destino San Salvador de Jujuy e apareceram duas rotas, uma com 97 kms e outra com 120 kms. Eu, achando que seria mais perto, optei pelos 97 kms da Ruta 9 e seguimos viagem. Até sair de Salta estava tudo certo, fomos beirando um rio formado por águas de degelo e paisagens rurais muito bonitas. Porém, depois de rodar uns 30 kms, a estrada começou a ficar estreita. Atravessamos uma serra com muito mais curvas do que eu esperava, algumas muito fechadas em que não dava para prosseguir a mais de 20km/h. Mas a estrada era muito bonita, em meio a muito verde, e quase 2 horas depois chegamos a San Salvador de Jujuy. Ali paramos para almoçar e ver o seguro SOAPEX, obrigatório no Chile.
San Salvador de Jujuy é uma cidade com metade da população de Salta. Tem aproximadamente 230 mil habitantes e boa estrutura. Conta com bancos, comércio forte, casas de câmbio e vários postos de gasolina. E a dica que damos aqui é: Encha o tanque em San Salvador, pois o próximo posto fica na fronteira com o Chile, em Paso Jama, a 320 kms, ou em Susques, 200 kms à frente.
Não esqueça: encha o tanque
Lição aprendida em Curitiba-Atacama de carro com a família, parte 2. Tanque cheio, seguro feito, é hora de seguir viagem, almoçamos e seguimos na Ruta 9 rumo a Cordilheira dos Andes!
Saindo de San Salvador de Jujuy, fomos beirando o Rio Grande, ele descendo e nós, subindo. E a subida é bem íngreme. Aqui a Cordilheira começa a se mostrar no horizonte. Os picos começam a ficar cada vez mais altos e, conforme vamos subindo, o verde vai sumindo e dando lugar à paisagem de altitude, começando a aparecer os primeiros cactos gigantes já na beira da estrada. Claro que paramos para que as crianças pudessem ver de perto. Eu já havia visto em 2018 na Bolívia, mas para eles era tudo novidade.
Em um determinado momento, saímos da Ruta 9 e entramos à esquerda, na 52. Logo após algumas curvas, surge a pequena cidade de Purmamarca e o Cerro de 7 Colores. Aliás nesta região as montanhas adquirem diferentes cores e tons devido às várias camadas de minerais depositadas com o passar dos milhares de anos, completamente diferente de tudo o que vemos no Brasil.
Uma estrada a mais de 4 mil metros de altitude
Saímos um pouco da estrada principal e fomos explorar a região rodando pelas estradas secundárias, em meio às montanhas coloridas de Purmamarca. A região norte da Argentina é um destino ainda pouco explorado, mas que guarda várias cidades da era Inca que valem muito a pena, como Tilcara, Humauaca, Iruya, todas encravadas na Cordilheira dos Andes. O vilarejo de Purmamarca, apesar de pequeno, tem várias opções de pousadas, comércio bem ativo e bons restaurantes, com várias opções de pratos e valores. Purmamarca foi nossa parada na ida e na volta também.
Seguindo viagem, as montanhas vão mudando de cor a cada curva. Por vezes têm tons amarelados, por vezes cor de cobre, e até montanhas de tons azulados se erguem dos dois lados da estrada, formando um cenário magnífico. A estrada vai serpenteando pelas montanhas. Conforme subíamos, as nuvens começavam a fechar o topo das montanhas, Aqui vemos como a Cordilheira dos Andes é imponente, com seus picos beirando os 6 mil metros de altitude.
Antes que as nuvens fechassem tudo, parei um pouco e fiz algumas imagens com drone desta estrada fantástica, com a vista de todo vale de Humauaca, um cenário surpreendente. O ponto alto da estrada fica a 4.170 metros, o ar é rarefeito e o carro aqui perde potência. Não adianta acelerar, mas nem precisa, melhor é ir devagar e curtindo a estrada. Aqui neste ponto estamos no que é chamado de altiplano, e o próprio nome já diz, é alto e plano, a mais de 4 mil metros de altitude. E se estende por milhares de quilômetros até a Bolívia.
Salinas Grandes: vale a pena ver
Um dos lugares que valem a pena dar uma parada para conhecer neste trecho se chama Salinas Grandes. É um imenso depósito de sal que transforma toda paisagem em um tom singular de branco. Quando passamos por aqui, tanto na ida quanto na volta, ventava tanto que quase não conseguíamos fechar a porta do carro. Chegava a ser engraçado ficar lutando contra o vento. E mesmo no verão, a temperatura baixa bastante e o recomendado é levar roupas de frio.
Algumas agências oferecem o passeio para quem quiser ir até o meio das Salinas e fazer algumas fotos em perspectiva, assim como fazem no Salar de Uyuni na Bolívia. Mas como ainda tínhamos um bom trecho de estrada, fomos em frente, cruzando trechos de longas retas e paisagens monumentais até chegar ao Paso Jama, fronteira entre Argentina e Chile, com o sol já se pondo.
Curitiba-Atacama de carro com a família. A vantagem
Neste ponto, existe um posto de gasolina com Wi-Fi e opções de lanche. Um alívio, porque em vários quilômetros pela frente não existe mais nenhum comércio. Isso até San Pedro do Atacama. Nos procedimentos para cruzar a fronteira, leva-se quase 1 hora para passar pelos vários guichês. No final, o policial chileno faz uma revista no carro, antes da entrada no País. Mas só de colocar a cabeça pra dentro do nosso carro e ver a bagunça de travesseiros, roupas das crianças, pacotes de salgadinho, os policiais percebiam que estávamos em viagem familiar e não nos deixavam muito tempo esperando. Essa é a vantagem de viajar em família.
Muitos vulcões no começo do deserto
Este trecho entre Paso de Jama e San Pedro de Atacama é muito interessante. Passa por várias lagunas altiplânicas e montanhas de várias cores. Aqui os vulcões são presença constante na viagem, se destacando na paisagem árida. Aqui podemos dizer que começa o deserto do Atacama. Muitos desstes vulcões ficam com neve nos seus cumes mesmo no verão. Já no inverno, toda paisagem fica congelada, o frio chega a ser tão intenso que a neve acaba fechando a estrada durante os meses do pico da estação mais fria.
Uma curiosidade é que neste trecho fica localizada a maior altitude de toda viagem, a incríveis 4.831 metros, nas coordenadas 23°04′21″S 67°30′17″W, na região do Salar de Tara. E na região do Salar de Tara, um lugar que vale a pena conhecer são os Monjes de La Pacana, imponentes formações verticais de pedra moldadas durante milhões de anos pela ação do vento. Aqui não tem estrada e pra conhecer é recomendado um veículo mais alto e de tração 4×4, para não ficar atolado na areia. O guincho mais próximo fica a muitos kms de distância… Paramos na volta e ficamos bem próximos a estas estruturas de pedra. Realmente fantástico o lugar.
Chegamos, enfim, ao nosso destino final, aa cidade de San Pedro. E como havíamos feito reserva, fomos direto para o local de hospedagem, pequenas tendas em meio ao deserto chamadas Yurtas. Estávamos exaustos, mas ao olhar para cima e ver aquele céu estrelado do Vale De Marte, percebemos que cada quilômetro rodado até ali tinha valido a pena. E ainda tinha muita aventura pela frente!
Siga acompanhando Curitiba-Atacama de carro com a família. Na quarta parte, a aventura no deserto.
O preço das coisas
Pedágios: média de 70 Pesos
Gasolina: Na Argentina se chama Nafta e tem duas opções, a Super, que sai por 59 Pesos, e a Infinia, de maior octanagem, 98 Octanas, por 66 Pesos”.
Veja também a viagem do jornalista Ronildo Pimentel de Foz do Iguaçu a Antofagasta.